Estimados irmãos e irmãs em Cristo! Como cristãos, povo de Deus a caminho da casa do Pai, não queremos apenas recordar o mistério da Páscoa, mas queremos torná-lo presente e testemunhá-lo, com palavras e com a nossa vida, na esperança que se cumpra a promessa de sermos conforme o Senhor ressuscitado, quando também nós ressuscitaremos.

Na Páscoa, a Igreja proclama diante do mundo que Jesus ressuscitou, está vivo e está conosco. Numa sociedade sedenta de notícias bombásticas de última hora, que causam impacto, podemos achar que o anúncio da ressurreição já é antigo e não traz nenhuma novidade. Por isso não vale a pena ser anunciado, recordado e celebrado. Realmente o fato em si é antigo, mas também sempre novo, porque a cada ano torna a rasgar a noite escura de um mundo imerso nas trevas das injustiças, da falta de amor, de esperança e de sentido da vida como dom de Deus.

Jesus Cristo ressuscitado não tirou o mal do mundo – nem era essa a sua missão –, mas o venceu na sua raiz, opondo à prepotência do mal a onipotência do seu amor. Se o Cristo ressuscitou, então é todo o sentido da história e da vida que muda de significado. A ressurreição de Cristo, ápice do mistério da fé, inaugura uma nova era de salvação, oferecida a todos os homens.

A nossa esperança que não decepciona não está no passado. Por isso não devemos nos deixar vencer pelo saudosismo, pelo cinismo daqueles que já abandonaram a fé em Jesus Cristo, pelo desejo desesperado de quererem salvar-se sozinhos. A felicidade da Páscoa não existe sem a dor e o sofrimento da cruz. Ela é a celebração da vitória sobre a dor e o sofrimento que Jesus enfrentou. A felicidade não está numa vida sem sofrimentos, sem dor, mas nas lágrimas enxugadas com amor e por amor. Precisamos redescobrir o valor da ressurreição de Jesus em nossa vida de fé e dividir esse valor com os outros.

Na fé precisamos ter a certeza de que Jesus está vivo no meio de nós e caminha conosco. Ele nos pede para participar das nossas decisões difíceis; nos pede para redescobrirmos a verdade da cruz; nos pede para acolhermos a sua presença com ternura, especialmente quando as incertezas, as angústias e o desânimo cobrem com a sombra da noite o nosso coração. Ele pede sinceridade de coração para termos confiança nele e acreditarmos na vida.

A presença do ressuscitado nos fala de acolhida, de perdão, de esperança, da força de uma vida nova, límpida e fecunda, em que a amargura da traição é vencida pelo amor humilde e sincero. Ele é a luz de um novo dia para a humanidade e a luz da nossa vida, se o buscarmos com o coração sincero. A verdade abre o nosso coração para deixar o fogo de Deus desfazer as resistências e os medos que nos impedem de ouvir a voz do ressuscitado pedindo para caminhar conosco.

Desejo a todos vocês e às vossas famílias uma abençoada Páscoa do Senhor.

Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul